Vastu Vaastu são termos relacionados à manifestação das formas. A antiga arquitetura védica, que descreve ambos os termos, leva em conta múltiplos fatores quando da construção de uma casa saudável
A arquitetura Vastu Vaastu, também conhecida como arquitetura védica, e mais recentemente como Ciência e Tecnologia Mayônica, é a arte e ciência de projetar construções utilizando fórmulas matemáticas específicas e determinados atributos baseados em princípios cognizados há milhares de anos.
Esses princípios são encontrados tanto no planejamento de cidades (como por exemplo Mohenjo-daro no vale do rio Indus, Kioto e Nara no Japão), em templos (como por exemplo Angkor Wat e Bakhong no Camboja, Karnak no Egito) além de uma quantidade imensa de templos na Índia, tais como Arunachaleswarar (em Thiruvanammali), Sri Ekambaranathan (em Kanchipuram), Sri Rangam (em Trichi), Brihadeswara e Gangaikkondacholeswara (em Brihadeswara), apenas para citar alguns templos no Sul da Índia que seguem os princípios da Ciência e Tecnologia Mayônica. Princípios também utilizados em casas tradicionais na Índia e aos poucos sendo aplicados em casas contemporâneas no mundo todo.
O princípio fundamental no qual apoia-se esta arte e ciência refere-se a haver uma energia pura não manifestada, que se manifesta no mundo material através de uma forma e de uma ordem específicas, trazendo padrões energéticos que apoiam a vida.
A palavra Vastu diz respeito à energia potencial, não manifestada. Energia esta que tem recebido diferentes nomes através dos tempos e das diferentes culturas, como Brahmam, Brahman, Deus, Absoluto, Consciência Pura, Campo Quântico, entre outros. Vastu é a energia não manifestada que vive eternamente e é onipresente. Já a palavra Vaastu refere-se a esta energia quando adquire forma material.
A Ciência e Tecnologia Mayônica lida com o eterno processo da energia sutil adquirindo forma material. Seu progenitor foi o grande cientista Mamuni Mayan (entre 12.000 e 13.500 anos atrás). Mayan percebeu como a Consciência Pura (Vastu) adquire forma material (Vaastu). E através de fórmulas matemáticas precisas foi capaz de recriar o processo do Absoluto tornando-se consciente e desperto em estruturas como edifícios, casas, templos, esculturas, na dança, na música, na poesia. Construções projetadas e construídas através destes princípios tornam-se estruturas vivas, trazendo benefícios que vão muito além de quaisquer outros tipos de construções.
Referências a Mayan são encontradas nos épicos Ramayana e Mahabharata. No Mahabharata Veda Vyasa o apresenta a Arjuna como Vishwakarma, o Criador. No Ramayana, Maharishi Valmiki exalta Mayan como um ser altamente iluminado e com talentos e inteligência supra humanos (1).
Mayan é considerado o autor de Aintiram (2). Etimologicamente “Thiram” significa poder, habilidade ou talento, e “Aindu” significa 5 – o sistema quíntuplo encontrado nas funções do Ser Universal. Aintiram é considerado o texto básico que deu origem aos Vedas, Agamas e Vaastu Shastras.
Também é atribuído a Mayan o Pranava Veda, um tratado que comenta o Aintiram. Como mencionado por Veda Vyasa, no início havia um único Veda, o Pranava Veda (1).
Outro tratado atribuído a Mayan é o Mayamatam, que contém os princípios do Vastu se transformando em Vaastu. Escrito como um tratado técnico, tem sido seguido pelos Sthapatis e Shilpis da Índia ao longo dos tempos.
Esta arte e ciência foi preservada por milhares de anos pelos Vishwakarmas, tendo, mais recentemente, sido divulgada para o Ocidente pelo Shilpi Guru Dr V. Ganapati Sthapati.
O cientista Mamuni Mayan percebeu como o grande campo de Consciência, Brahmam, se altera a partir da energia potencial (Vastu), para se tornar matéria (Vaastu – energia cinética). Mayan intuiu, como tudo o que é criado e não criado, é vibração ou pulso, e pode ser descrito em termos matemáticos (3).
O grande campo de Consciência utiliza um desdobramento matemático rítmico ao se tornar matéria. Mayan verificou que ao aplicar esta mesma sequência através de fórmulas matemáticas específicas, poderia criar formas que vibram com as qualidades de Brahmam.
Junto com a descoberta deste processo, Mayan percebeu as expressões matemáticas que poderiam nos permitir acessar qualidades específicas do campo de Brahmam ou Consciência Pura, qualidades como bem-estar, harmonia, paz, abundância, entre outras. Como mencionado por Robert Lawlor (4) “a natureza fundamental do mundo material se torna conhecida através do seu padrão vibratório subjacente”.
A pulsação do espaço, dirigida pelo grande campo de Consciência (também conhecido como Absoluto, Campo Unificado) origina inicialmente padrões de ondas, a partir da Luz e do Som primordiais (Om luz e OM som). E conforme descrito nos Vaastu Shastras, este padrão é formado por ondas quadradas no nível sutil e por ondas circulares no nível grosseiro (5).
Ondas circulares são notadas, por exemplo, quando jogamos uma pequena pedra sobre a água, originando círculos que se propagam de forma ordenada. Estas ondas são visíveis. Já as ondas do nível sutil são conhecidas como anéis concêntricos quadrados. O ponto central deste quadrado é o ponto a partir do qual nossos pensamentos projetam ondas quadradas concêntricas, que vão originar a forma desejada. A onda quadrada imóvel é conhecida como a mandala Vaastu Purusha (5).
Esta mandala é uma grade energética constituída de 8×8=64 quadrados de dimensões uniformes (Manduka pada). Esta mandala de energia sutil gira a partir de si própria e origina a grade energética de 9×9=81 quadrados, também de dimensões uniformes (Paramasayika pada). O grande campo de Consciência desenvolve réplicas de si mesmo em direção ao infinitamente diminuto e em direção ao infinitamente maior (6).
Estas grades energéticas com 64 e 81 quadrados são consideradas básicas, originando espaços maiores e menores. A de 64 quadrados expande-se a partir de um ponto central, o Brahma Bindu e a grade energética com 81 quadrados expande-se a partir de um quadrado central (5). Estes anéis concêntricos quadrados, gerados a partir do ponto e do quadrado centrais, são ondas que se transformarão em uma forma material.
Todas as formas materiais são originadas a partir do Brahma Bindu (no caso da Paramasayika Vaastu Mandala) e do Brahma pada (no caso da Manduka Vaastu Mandala).
O padrão de ondas ocasionado pela vibração do espaço tem várias propriedades, entre as quais o fenômeno da ressonância ou vibração simpática – duas frequências de vibração que respondem uma à outra. Como exemplo, 2 diapasões com a mesma frequência de vibração (ritmo) vão estimular um ao outro. Já um diapasão com uma frequência de vibração diferente não será estimulado.
Conforme comentado pelo Dr Sthapati (5), uma contribuição de profundo significado encontrada nos Vaastu Shaastras refere-se ao fato de que números também ressoam entre si. O nº 4 ressoa com outro nº 4, bem como com múltiplos e frações do 4, trazendo harmonia.
Se números ressoam entre si, formas bi e tri-dimensionais também ressoam entre si. A isto denominamos ressonância espacial ou harmonia espacial. Ou seja, espaços ressoam entre si desde que sejam consequência das mesmas frequências, ou múltiplos ou frações destas. Quando vários espaços ou formas são construídos para ressoar entre si, criamos uma sinfonia em termos de formas.
Os Vastu e Vaastu Shastras delineiam os passos necessários para que se possa criar (mais propriamente dito manifestar) estruturas que vibram de forma benéfica. De acordo com estes textos, há 3 aspectos fundamentais a serem seguidos, sem o que uma construção não pode ser considerada Vastu Vaastu (3).
São eles:
1. criar o efeito Vastu Vaastu
2. manter o efeito Vastu Vaastu criado
3. viver em harmonia com este efeito Vastu Vaastu criado
Como criamos o efeito Vastu Vaastu?
1. espaços contidos por paredes precisam estar alinhados com as direções cardinais (N-S-L-O verdadeiros ou geográficos), de forma a captar a energia sutil da Terra, denominada Vaastu Purusha.
2. O segundo fator necessário para criar o efeito Vastu e Vaastu refere-se a determinar o espaço que será construído, a partir de medidas matemáticas muito específicas, os cálculos Ayadi (8). E construí-lo de acordo, de forma bem meticulosa. Ou seja, o perímetro da construção precisa ser escolhido de forma precisa para que esta capte as energias positivas. Este perímetro é a chave que abre a porta às qualidades do campo da Consciência Pura, qualidades estas que vão fornecer saúde, riqueza, bem-estar, harmonia, entre outras que podem ser escolhidas.
Sem a orientação cardinal adequada e sem as medidas corretas, o efeito Vastu e Vaastu não ocorre (3).
Novo conjunto de aspectos importantes ao projetarmos formas que vibram em sintonia com a Consciência Pura é o de manter a energia Vastu Vaastu captada.
Este efeito é conseguido através da aplicação adequada de princípios relacionados à posição de paredes, portas, janelas e telhado, tanto na horizontal como na vertical. Princípios que também envolvem o posicionamento e direcionamento da água e da eletricidade dentro e fora da construção, bem como a escolha adequada do terreno, entre outros. Sem a aplicação destes princípios o efeito Vastu e Vaastu criado ficará distorcido (3).
Os 81 módulos de uma construção Vastu e Vaastu contém ondas de energia, que se distribuem pelo espaço contido por paredes, refletindo diferentes qualidades. A energia não é boa ou má, mas pode ter efeitos positivos ou negativos para o ser humano. O objetivo básico da arquitetura Vastu Vaastu é eliminar quaisquer efeitos negativos da energia sobre o ser humano, mantendo apenas energias positivas que beneficiam toda a psicologia da pessoa e que confiram “bliss” espiritual (3). Estas diferentes qualidades energéticas são denominadas pada devatas ou riks.
A posição da entrada principal (Mahadwara) tem grande significado e é regida pela qualidade do devata associado (3). Como regra geral evita-se a porta em posição central tanto na parede ao Sul da casa, como no Oeste e no Leste. A única exceção para uma porta central em uma casa é na parede Norte. Já com relação a áreas comerciais, escritórios, qualquer face da construção pode ter uma porta central.
A direção cardinal a ser escolhida para a porta principal depende do perímetro estabelecido de acordo com os cálculos Ayadi. Algumas alternativas à posição principal (Sthana Yoni) são possíveis (Dissa Yoni), mas nenhum perímetro permite a escolha aleatória de qualquer das 4 direções cardinais.
As 4 posições preferidas referem-se aos pada devatas:
– Indra, no Leste, posição esta que confere ao morador força emocional;
– Gruhakshata, ao Sul, que permite aos membros da família agirem em conjunto e em harmonia, com isto proporcionando riquezas de todos os tipos;
– Pushpadanta, no Oeste, pada devata que auxilia na promoção de boas qualidades, fala delicada, diplomacia e aumento do número de amigos;
– Bhallata, ao Norte, energia que traz grandeza, popularidade, junto com força e proteção.

Módulos possíveis para localizar a porta principal em uma casa Vastu
e pada devatas relacionados às mesmas (3)
O terceiro aspecto a ser considerado é viver em harmonia com a energia captada (3). O que nos remete a como a energia Vastu Vaastu se distribui dentro de uma dada forma.
Esta energia penetra através do centro da construção – o Brahmasthan (sthan: estabelecido; Brahman: o Absoluto). Penetra tanto pela terra como através de cúpula e/ou Kalash (penetra pelo céu). Estas 2 energias (vindas da terra e do céu) se unem no ponto central (Bindu) formando o elemento espaço (éter), que ao vibrar origina os elementos ar, fogo, água e terra, mantendo-se presente como energia sutil – Vaastu Purusha – em toda a construção, e propagando-se pelos arredores.
À medida que ar, fogo, água e terra são formados, eles se concentram nos cantos da construção. O elemento ar, o mais sutil, se estabelece no canto noroeste da construção. O elemento fogo, ligeiramente mais denso, no canto sudeste. O elemento água se estabelece no canto nordeste e finalmente o elemento terra, o mais denso de todos, no canto sudoeste. Este processo de manifestação dos elementos a partir da energia primordial é descrito com detalhes no livro Fabric of the Universe (9).
Cada um desses elementos tem vibração, atributos e qualidades próprias. Viver em harmonia com eles requer que os ocupantes executem atividades harmônicas aos mesmos, como por exemplo, cozinhar onde está o elemento fogo.
Cada setor de uma construção Vastu está relacionado a um pada devata ou luminar. Devatas ou luminares são, na realidade, diferentes raios luminosos emitidos a partir da região central da construção, o Brahmasthan, e que se diferenciam no espaço contido por paredes.
A maior quantidade de raios luminosos atinge os setores Nordeste e Sudoeste, que se tornam os locais com maior quantidade de energia. Desta forma o Sudoeste é atribuído aos donos da construção e o Nordeste primordialmente para culto ou adoração.
No setor Sudoeste, a deidade ou luminar mais importante é Nairruti. Nairruti é outro nome de Lakshmi, a deusa da riqueza e da prosperidade duradouras. As energias específicas direcionadas para o Sudoeste trazem harmonia, saúde, longevidade, bons filhos, saúde e riqueza, além de forte conexão com o Criador.
Tecnicamente Nairruti significa aquela que estabelece um ponto de parada, cancelando apegos e vínculos criados. Com isto Nairruti promove um sono profundo e reparador. Devido a esta quebra de vínculos as pessoas tem a possibilidade de ficar com a consciência de si mesmo, o que favorece a iluminação (1).
Os princípios do Vastu Vaastu, quando aplicados a uma construção, elevam a frequência das pessoas de modo que cada um possa se desempenhar de forma feliz e bem-sucedida no mundo. Casas, escritórios, escolas, enfim, todo e qualquer espaço construído deveria sê-lo de acordo com os princípios do Vastu Vaastu, de forma a assegurar o bem-estar e a saúde das pessoas.
Literatura citada:
- A Vaastu Shastra: Gateway to the Gods, vol I. Dr Jessie J. Mercay, 2006-2018.
- Mayan’s Aintiram – tradução para o inglês por Dr S. P. Sabharathnam. Vaastu Purusha Publishing House, Vaastu Vedic Research Foundation, Chennai, India, 1997.
- Vaastu Shastra: ancient Science for modern times. Dr Jessie J. Mercay, ipropertybook.com/bnm/vaastu-shastra-modern-times, 2013.
- Geometria Sagrada. Robert Lawlor, Edições del Prado, 1996.
- Building Architecture of Sthapatya Veda. Dr V. Ganapati Sthapati, Dakshinaa Publishing House, Chennai, India, 2001.
- Enlightened cities of Space Science: Health, Happiness, Abundance, and Spiritual Bliss through ancient Vaastu Building and Town Planning. Dr Jessie J. Mercay, 2008-2016.
- Vaastu Purusha Mandala. Dr V. Ganapti Sthapati. A Shilpi speaks series – 18. Dakshinaa Publishing House, Chennai, India, 2000.
- Ayadi Calculations: mathematics of vibrational matching. Dr V. Ganapati Sthapati, Dakshinaa Publishing House, Chennai, India, 2003.
- Fabric of the Universe. Dr Jessie J. Mercay, Dakshinaa Publishing House, Chennai, India, 2005.
Para tornar uma construção plenamente saudável, o projeto de uma casa Vastu leva em conta, entre outros fatores, o fenômeno da ressonância. Novos conceitos em física, como a teoria das cordas, forma e comportamento de ondas, enfatizam a veracidade deste conhecimento.
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